terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Concurso da Drealentejo


No seguimento do sucesso do ano anterior, vimos por este meio anunciar a abertura do período de inscrições para a edição de 2010 do concurso “ Um Leitor é um Sonhador”. As inscrições estão abertas até ao dia 15 de Janeiro de 2010.

leitor.sonhador@drealentejo.pt

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Outro concurso: a 4ª edição de "Onde te leva a Imaginação?"

Toda a informação sobre as actividades e desenvolvimento do programa pelas escolas ficará disponível em http://miudos.irrequietos.com/

O programa “Onde Te Leva a Imaginação?” destina-se aos seguintes níveis educativos: Educação Pré-Escolar, 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico.As actividades pedagógicas propostas para cada nível têm como referência as obras recomendadas pelo Plano Nacional de Leitura e a brochura «Onde te levam os correios?».Todas as actividades, com excepção da actividade “Desenha um Selo”, decorrerão online. Desta forma, contribuímos para a poupança de recursos e incentivamos as nossas crianças à utilização das novas tecnologias.

Solicitamos que possa divulgar o programa “Onde te leva a Imaginação? ” junto de todos os docentes para que inscrevam as suas turmas.

BPE e Museu de Évora no Natal

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A não perder, em Janeiro, na BPE!


A Biblioteca Pública de Évora em associação com o Museu de Évora constituíram-se parceiros no projecto internacional "CONTOS DO CAMINHO". Os “CONTOS DO CAMINHO” é uma actividade que consiste em fomentar entre o público infantil, as famílias e a comunidade docente, o conhecimento do Caminho de Santiago e as suas várias rotas como um itinerário cultural de encontro e intercâmbio de diferentes culturas. Mais de 25.000 crianças, professores e acompanhantes percorrerão o Caminho através dos contos de tradição oral de vários países e das suas obras de arte. Évora, Bordeaux, Óbidos, Madrid e Santiago de Compostela serão as cidades envolvidas, onde se realizarão oficinas de contos, de recolha de tradição oral, de criação artística e animação de leitura.

Durante a segunda quinzena de Janeiro de 2010, a Biblioteca Pública de Évora vai receber uma contadora galega, que levará a cabo sessões de narração oral, para crianças do Pré-escolar, 1º e 2º anos do 1º ciclo do Ensino Básico.

Para participarem nesta iniciativa, as escolas devem obrigatoriamente inscrever-se ainda durante o mês de Dezembro, indicando a morada para o qual será enviada gratuitamente a "mala do caminhante" com livros e informações de todos os países envolvidos (veja o programa completo em anexo).

As inscrições poderão ser feitas através dos telefones 266 769 330 ou através do e-mail bpevora@bpe.pt

Agradecemos a divulgação a todos os interessados.

domingo, 13 de dezembro de 2009

A propósito de poema, António Gedeão e o Natal - Clica no link para o ouvires!

Dia de Natal

Hoje é dia de era bom.

É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,

de falar e de ouvir com mavioso tom,

de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,

de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,

de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,

de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.

É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,

como se de anjos fosse,

numa toada doce,

de violas e banjos,

Entoa gravemente um hino ao Criador.

E mal se extinguem os clamores plangentes,

a voz do locutor

anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu

e as vozes crescem num fervor patético.

(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?

Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.

Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.

Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas

e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,

com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,

cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,

as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,

ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.

É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,

como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.

Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.

E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento

e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprado.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.

Naquela véspera santa

a sua comoção é tanta, tanta, tanta,

que nem dorme serena.

Cada menino

abre um olhinho

na noite incerta

para ver se a aurora

já está desperta.

De manhãzinha,

salta da cama,

corre à cozinha

mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza

da matutina luz

aguarda-o a surpresa

do Menino Jesus.

Jesus

o doce Jesus,

o mesmo que nasceu na manjedoura,

veio pôr no sapatinho

do Pedrinho

uma metralhadora.

Que alegria

reinou naquela casa em todo o santo dia!

O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,

fuzilava tudo com devastadoras rajadas

e obrigava as criadas

a caírem no chão como se fossem mortas:

Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!

E fazia-as erguer para de novo matá-las.

E até mesmo a mamã e o sisudo papá

fingiam

que caíam

crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,

Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,

de Sonhos e Venturas.

É dia de Natal.

Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.

Glória a Deus nas Alturas.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Faça Lá um Poema! Mais um concurso!!!



Por ocasião da comemoração do Dia Mundial da Poesia 2010, que se realiza no CCB no dia 21 de Março, o Plano Nacional de Leitura e o Centro Cultural de Belém , numa iniciativa conjunta, lançam um desafio às escolas, convidando-as a participarem num Concurso de Poesia. O Concurso Faça Lá um Poema procura incentivar o gosto pela leitura e escrita de poesia e destina-se a quatro níveis de ensino, desde o 1º Ciclo ao Ensino Secundário, e nele poderão participar quaisquer alunos de escolas públicas e privadas.As escolas que desejarem participar devem seleccionar e apresentar a concurso um máximo de três poemas por cada nível de ensino. Esta selecção ficará ao critério de cada escola, com autonomia, sugerindo-se, no entanto, que o processo seja dinamizado pelo professor bibliotecário ou pelo responsável da BE.

A participação no concurso implica a inscrição em formulário próprio que deverá ser enviado até dia 1 de Fevereiro de 2010.Recomendamos a leitura atenta do regulamento que enviamos em anexo, tal como a ficha de inscrição. A entrega de prémios terá lugar no CCB, em Lisboa, a 21 de Março de 2010 e será integrada no programa do Dia Mundial da Poesia.

Divulgue e participe! Dê asas à imaginação dos alunos!

REGULAMENTO

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Hoje foi assim, caras felizes, esforço recompensado

Um concerto, o primeiro para alguns dos nossos alunos do ensino articulado com o
Eborae Musica
Uma palestra sobre André Resende pela Drª Fátima Nunes com a presença do coordenador interconcelhio da RBE, Dr. Domingos Boieiro.



Uma gravura do nosso Clube de Gravura, uma beleza! Uma beleza entre outras...




10 de Dezembro e a Declaração Universal dos Direitos Humanos - 11 de Dezembro, 25 anos da AMI


Quando se comemora o dia da Declaração Universal dos Direitos Humanos não podemos deixar de assinalar os 25 anos da Assistência Médica Internacional (AMI).

Fernando Nobre lançou no dia 3 de Dezembro o livro Humanidade - Despertar para a cidadania global solidária, uma obra com mais de 300 páginas dedicada à mulher, aos quatro filhos biológicos e aos de "todo o mundo", aos futuros netos e bisnetos, familiares e amigos.

Assim, para celebrar a efeméride, a AMI decidiu promover um concerto na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, no dia 11 de Dezembro, às 21h30.
Concerto Contra a Indiferença é um espectáculo da responsabilidade da Orquestra Metropolitana de Lisboa, que prontamente aceitou o desafio, oferecendo a receita total aos projectos da AMI em Portugal. Tendo como solista Alexandre da Costa (violino) e com direcção musical de Cesário Costa, a Metropolitana propõe composições de Béla Bartók, Joly Braga Santos e Sergei Prokofiev entre outros.
Os bilhetes têm o valor simbólico de 5€ e 7€!
Não perca este evento. Não perca esta oportunidade de contribuir para uma causa digna do seu empenho, celebrando 25 anos de dedicação a fazer a diferença no Mundo!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

André de Resende, um Homem para conhecer e celebrar

Crónicas de Artur Goulart, Os Prazeres de Resende

OS PRAZERES DE RESENDE
É normal endeusar os grandes homens. Quanto mais se distinguem nas letras, nas artes, nas ciências, na política, ou em qualquer outro campo do saber, da acção educativa, da ética, da lisura moral e da consciência cívica, de modo que a História os recorda e assinala com maiúscula, mais difícil se torna reconhecer-lhes um comportamento normal de acordo com o comum dos mortais. E, embora racionalmente saibamos que eles, como todos os homens, têm defeitos, virtudes, emoções, depressões, alegrias, amizades, fracassos, incertezas, e sei lá que mais, e apenas souberam salientar-se mercê do seu esforço, de circunstâncias várias e convergentes , e, sobretudo, da entrega persistente a um objectivo, não deixamos por isso, mesmo inconscientemente, de os colocar numa esfera ideal de comportamento. Esta atitude, levada ao extremo, vem provocar as biografias encomiásticas, os panegíricos exaltados, onde o grau de anormalidade dos biografados cada vez mais os afastam dum reconhecimento objectivo, transformando a exemplaridade possível num ideal inatingínvel, e o possível leitor em admirador embasbacado e distante.
Pelo contrário, dar humanidade a todos eles, conhecer-lhes objectiva e serenamente a normalidade, é criar proximidade, aprender-lhes o convívio, partilhar a herança e usufruir rentavelmente o mistério do passado.
Vem tudo isto a propósito de André de Resende, o eborense ilustre de Quinhentos, humanista notável, pedagogo insigne, latinista afamado, prolífero escritor. Aos dez anos professa no Convento de São Domingos, poucos anos depois já está a prosseguir estudos em Alcalá de Henares e Salamanca, e continua um longo percurso pelas grandes universidades europeias. Em Lovaina se torna seguidor de Erasmo e, em Paris, é aluno de Nicolau Clenardo, de quem se faz amigo e que, mais tarde, trará de Salamanca, por solicitação de D. João III, para preceptor do infante D. Henrique, futuro cardeal-rei e primeiro arcebispo de Évora. A experiência da vida diplomática tem-na com o representante português junto da corte de Carlos V, o embaixador D. Pedro de Mascarenhas, a quem acompanha entre 1531 e 1533, ano em que regressa à sua Évora natal, e a partir da qual passará a exercer uma intensa actividade literária e pedagógica.
São, todavia, outros os aspectos da vida de Resende que estão na mira destas linhas. Um dia destes dei comigo a reler um belo artigo "Bosquejos campestres em novos poemas de André de Resende", do professor e latinista australiano John Martyn (A Cidade de Évora, 69-70, 1986-1987, pp 21-30). Ao comentar os poemas cita um significativo excerto de uma carta de Nicolau Clenardo a João Vaseu, outro célebre humanista trazido por Resende, que ensinou em Braga e Évora. Nela, Clenardo, com uma ponta de humor, imagina o que faria aos amigos se fosse Papa: "proibir Vaseu de beber vinho durante três meses, a não ser que Resende lhe mandasse algum grátis, e proibir Resende de escrever poesia, de jardinar e de examinar mármores antigos durante um ano inteiro. Este duro castigo leva Martyn a concluir que "Clenardo acertou em cheio nos três maiores prazeres de Resende, sobretudo nos seus últimos anos".
Na verdade, a poesia atravessa dedicadamente toda a vida de Resende como um normal respirar e comunicar. Basta ler o referido artigo para perceber o seu amor por ela. Sente-se, todavia, que faltam edições acessíveis da sua obra poética, com boas traduções e comentários, uma vez que o latim foi a sua língua de eleição. Creio que seria uma surpresa para muita gente poder, por exemplo, ouvi-lo cantar: "Tudo é exuberância, agora é a nova estação do tempo, / as ledas ervas embranquecem com tantas flores". Ou então: "Oh se eu pudesse, quão mais belo fora, / fugindo enfim aos Reis, / comer liricamente as minhas couves, / ter da vida o que os deuses / dessem, descer as Musas da colina, / reter cantando o tempo, / p'ra não morrer de todo e a melhor parte / sobreviver-me um dia..."
Não é difícil também perceber que jardinar fosse um dos "hobbies" de Resende. Possuía uma quinta, perto de Évora, ali na estrada de Arraiolos, junto à Manisola. Ainda lá está, no meio do campo, a bela fonte, quase em ruinas, lugar de meditação, de fresco, de convívio. Há alguns anos, na imprensa local, chamei a atenção para a importância da fonte e para a necessidade de ser conservada. Até agora nada foi feito e a degradação do monumento aumentou consideravelmente. Na sua poesia, carinhosas são as referências à quinta, aos jardins, à vida e trabalhos do campo. Escreve, por exemplo, " (...) a 2000 passos da minha cidade (...) posso escrever poemas / ou renovar a vinha, ou enxertar de nova maneira, / forçar o infeliz medronho a dar um fruto que não é seu".
Resta, por fim, a dedicação de Resende pelas antiguidades. O primeiro a dedicar-se, que saibamos, a buscas arqueológicas e a coleccionar, na sua casa da cidade, numerosas lápides romanas, algumas das quais hoje no museu. O exame aturado de muitas outras e os seus estudos históricos levaram-no a escrever os "Libri quatuor de Antiquitatibus Lusitaniae", editados em 1593 já depois da sua morte, e a "História da Antiguidade da Cidade de Évora" (Évora 1553), onde o seu amor por Évora e a vontade de a glorificar assentando com segurança os seus fundamentos na civilização romana, o fizeram engendrar numerosas lápides, pretensamente romanas, que apresenta com as transcrições e respectivas traduções. Os testemunhos deixados demonstram bem esta dedicação acrisolada pela epigrafia latina e pela arqueologia.
Esta breve digressão pelo três prazeres de Resende - a vivência da poesia, o amor pela natureza e o gosto da arqueologia - levam-me a interrogar-me e a interpelar os leitores com a questão: não serão frequentes, ouso até dizer, não serão tais prazeres naturais em quem vive e sente o Alentejo?
Artur Goulart
(Publicado em «Évora e o mais», nº 2, Junho 1994)

Quem acode à Fonte de André de Resende, Artur Goulart

O Passado à Flor da Cidade
Quem acode à Fonte de André de Resende?
Se há nomes de que Évora se pode orgulhar, ao longo da sua história, é o de André de Resende. Grande figura de humanista de reputação internacional, conhecedor dos grandes centros europeus de cultura, do círculo de amigos de Erasmo e muitos outros intelectuais, autor de mais de centena e meia de trabalhos, geralmente em latim - livros, poemas, cartas, opúsculos -, André de Resende sempre procurou dignificar a sua cidade, sobretudo enaltecendo o seu passado histórico.
Morava na rua hoje com o seu nome (Mestre Resende), ao nº 39. E a casa, embora muito remodelada no séc. XIX, mantém todavia ainda algumas das características da época. Possuía, além desta, uma pequena casa de campo, na chamada Quinta do Arcediago, julgo pertencente hoje à Manisola. E é aí, a poucos metros da casa, perto do aqueduto que atravessa a Quinta ora rasando o solo ora elevando-se em elegantes arcadas, que se encontra a fonte de André de Resende.
O amor pela água, que brota com força do seio da terra, é uma constante na história da humanidade, e, ciclicamente, assume expressões que ultrapassam o meramente utilitário até atingirem a quase divinização. A fonte é, por vezes, cercada num espaço arquitectónico, como num templo, onde dignificada e dominada está apta a estabelecer com o homem uma comunicação purificadora, refrescante, espelho de ideias, saciadora de desejos.
O humanismo quinhentista, com o reacender dos grandes temas clássicos, o repensar do homem e da natureza, reaviva este culto da água. A fonte de André de Resende é um exemplo raro e significativo da época. Pequena construção rectangular (2x2,40 m e cerca de 3 m de altura), coberta por uma cúpula elíptica encimada por lanternim, abre-se para NE por um arco de volta perfeita a toda a largura da parede, ladeado por dois grossos contrafortes. Sobre o arco, aberta em estuque, uma inscrição latina, cópia de uma outra que André de Resende guardava ciosamente na sua colecção epigráfica, na sua casa da cidade, e hoje no Museu de Évora. No interior, na parede do fundo, outra inscrição latina, igualmente em estuque, hoje quase desaparecida. A nível do solo, no canto direito, a fonte. Nas paredes laterias, dois bancos corridos, de pedra, convidam ao repouso, à conversa.
Precisamente aí se teriam desenrolado muitos dos diálogos de Mestre Resende com os seus amigos. Ele próprio o refere a propósito de uma conversa com o poeta Inácio de Morais e o médico Luis Pires. Ainda na cidade, depois de os convidar a um passeio, acrescenta: «…em passeio lento, falando animadamente pela estrada, chegámos à casa de campo e, tomada uma breve colação, sentámo-nos junto à fonte.» (Américo da Costa Ramalho, «Algumas figuras de Évora no Renascimento», in A Cidade de Évora, 65-66, 1982-1983, pp 8-9).
Ora é esta preciosidade que ameaça ruir. Uma árvore, já frondosa, nasceu e cresceu incrustada na parede lateral a NO, tendo aberto grandes fendas que tendem a agravar-se de ano para ano com as chuvas, infiltrações, desenvolvimento dos ramos e raízes. Não será altura, antes que caia, nesta Évora Património Mundial, que alguém ou alguma instituição, em época de mecenato cultural, lhe deite a mão?
Esta herança monumental de André de Resende, tal como a sua obra literária, merece o nosso respeito, mais que não seja pelo muito que ele fez por Évora.
Artur Goulart
(Publicada em «O Giraldo», de 20 de Maio de 1987)

Feira do Livro de 9 a 11 de Dezembro no Polivalente




Os premiados no Concurso Leituras e Olhares 2009

Boletim de Dezembro

Os marcadores André Resende

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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

André de Resende, por Francisco Bilou e Artur Goulart

A propósito da tese de Francisco Bilou "A (RE)FUNDAÇÃO DO AQUEDUTO DA ÁGUA DA PRATA EM ÉVORA, Artur Goulart na sua "Crónica à segunda" (6) refere de novo André de Resende:
Hoje trago um tema que diz respeito à minha cidade de adopção. Trinta anos de Évora, com a vivência permanente do seu rico património, muitas e muitas horas de investigação e estudo dos seus monumentos, dos seus costumes, das suas gentes, gravam no coração um sinal de pertença como se aqui tivesse nascido e sempre vivido. A história de Évora é para mim lugar de atracção e devaneio, nela me sinto em casa, conheço-lhe os cantos, respiro o tempo que passou, aguardo empenhado o que virá. A esse propósito, esta semana assisti à defesa de uma tese de mestrado, daquelas que dá gosto ouvir e aprender, não que a arguência provocasse grandes debates e oposições, tal não seria muito possível, mas porque a excelência da apresentação do tema, a força da argumentação baseada em muita investigação, muito trabalho de campo, a análise cuidada e meticulosa, a novidade das conclusões, marcaram a qualidade do trabalho. A classificação final de 19 valores foi bem merecida. Intitulava-se “A (re)fundação do Aqueduto da Água da Prata em Évora. 1533-1537. Novos dados arqueológicos” e apresentou-a o Francisco Bilou, como dissertação do Mestrado em Arqueologia & Ambiente, do Departamento de História da Universidade de Évora. Quem alguma vez visitou Évora não pode ter deixado de ver o seu aqueduto, trazendo de longe (17 km) a imprescindível água e penetrando na cidade com as altas e esbeltas e redondas arcarias. Resumindo, tal construção foi mandada erguer por D. João III e, até muito recentemente, negava-se a possibilidade da existência de um aqueduto romano, apesar de se saber que o templo no alto da cidade tinha tanques de água à volta e que, um pouco mais abaixo, as termas romanas no subsolo da Câmara Municipal utilizavam em abundância o precioso líquido. Argumentava-se com a altimetria do templo em relação à nascente e com a inexistência de vestígios arqueológicos. Tudo isto, apesar de já em 1533, ao regressar a Évora, o grande humanista eborense André de Resende se ter lançado numa acesa diatribe com o Bispo de Viseu, D. Miguel da Silva, também ilustre eborense, embaixador junto do Papa Leão X e que apenas regressa a Portugal para o episcopado viseense. Resende incitava o rei à refundação do aqueduto, afirmando a existência da construção romana, ao contrário do prelado de Viseu. D. João III acabou por abalançar-se à obra, levando o seu termo para a Praça do Giraldo, a uma cota mais baixa que o alto da acrópole, na dúvida da total argumentação de Resende. Ora, com esta dissertação, Francisco Bilou veio provar a razão de Resende e trazer provas suficientes de vária ordem e, sobretudo, arqueológicas para a existência do aqueduto romano, bem como muitas outras novidades sobre a obra de D. João III. Todavia, o que me apraz registar hoje é, de certo modo, a reabilitação de André de Resende, apoucado por alguns estudiosos da nossa praça por ter fabricado algumas lápides pseudo-romanas, ele insigne dominicano, primoroso latinista, notável humanista frequentador reconhecido das principais universidades estrangeiras da época, primeiro arqueólogo português digno desse nome, figura eminente do século de ouro da história eborense. Faleceu em 9 de Dezembro de 1573 e foi sepultado no seu convento dominicano, hoje desaparecido para dar lugar ao Teatro Garcia de Resende e à praça correspondente. Quando da demolição do convento, os seus restos mortais foram trasladados com honras especiais para a Sé de Évora. A história e obra dele é, todavia, água de outro aqueduto que não do riacho desta crónica.
Évora, 16 de Novembro de 2009 Artur Goulart
(Publicada no Diário dos Açores, 18 de Novembro de 2009)




ANDRÉ DE RESENDE[1]