Muito boa tarde!
André de Resende nasceu em Évora por volta de 1500. Como poderemos perceber ao longo desta entrevista a sua vida foi muito diversificada.
André de Resende foi um grande estudioso e dedicou-se de forma entusiasta à Teologia, à História, à Arqueologia, à Diplomacia e ao Ensino. Viajou pela Europa, estudou em várias universidades europeias e viveu na Corte do Imperador Carlos V e na Corte de D. João III.
É com muito prazer que vos apresento um grande humanista do Renascimento, o ilustre eborense André de Resende.
Agradeço que façam as perguntas por ordem numérica para melhor se compreender a vida do nosso estimado patrono. Gostaria que se levantassem ao colocar as questões.
Agradeço a André de Resende a disponibilidade para nos dar esta entrevista e agradeço também a participação de todos vós.
Um agradecimento especial aos meus colegas de turma, 9º. C, que nas aulas de Formação Cívica colaboraram na realização desta entrevista.
André de Resende já não está entre nós. Faleceu a 9 de Dezembro de 1573. Os seus restos mortais encontram-se na Sé de Évora.
Boa Tarde. Obrigado pelo convite!
1. André de Resende, o que nos pode contar sobre a sua infância?
Segundo me disseram, nasci por volta de 1500 na rua da Oliveira, em Évora. Como não existia registo civil, não registaram o dia do meu nascimento.
Órfão do meu saudoso pai André Vaz de Resende, com o apoio de minha mãe, Ângela Leonor Góis, tive a oportunidade de iniciar os estudos, aos 8 anos de idade, pela mão do grande mestre de gramática Estêvão Cavaleiro. Por vocação, entrei aos 10 anos no Convento da Ordem de S. Domingos, em Évora.
2. André de Resende, passou a sua juventude no convento?
Não, meu jovem/ minha jovem. Com apenas 13 anos fui estudar na Universidade de Alcalá de Henares, em Espanha, onde estive 4 anos.
A seguir, fui para a Universidade de Salamanca onde fiz o Doutoramento e mais tarde frequentei as Universidades de Paris, em França e de Lovaina, na Bélgica.
3. André de Resende, gostaria de saber se o senhor guarda boas recordações dessa época.
Bem, foi nessa cidade belga que tomei contacto com as correntes humanistas. Tornei --me amigo de personalidades próximas do grande pensador Erasmo de Roterdão.
Gostei muito de Lovaina, tanto que cheguei mesmo a escrever um louvor à cidade, a Erasmo e aos seus discípulos.
Vivi em Lovaina durante 3 anos, estudando Teologia, Latim e Grego.
4. Segundo ouvi dizer, pertence a uma ordem religiosa, não é verdade?
Pertenço à ordem dos dominicanos que é uma das ordens mendicantes, tal como os franciscanos.
Em 1555 quando o ensino foi entregue à Companhia de Jesus regressei ao Convento.
Sabem um dos grandes benefícios que tive por pertencer ao clero foram os estudos superiores, que me foram facultados pela vida eclesiástica.
5. O senhor falou nas correntes humanistas e foi apresentado como um grande humanista do Renascimento.
Eu gostaria de saber o que significa ser um humanista.
Pois é, meus amigos. O Renascimento foi uma época de grandes transformações e descobertas.
Se na Idade Média o homem vivia para Deus, no Renascimento, devido aos descobrimentos marítimos, conhecemos novas terras, novos povos e novas culturas, houve o crescimento de uma nova classe social, a burguesia, associada ao comércio e o homem tornou-se um ser curioso de aprender tudo aquilo que o cercava. Um novo mundo se abriu perante os nossos olhos e a nossa mente. Passámos a valorizar as qualidades humanas, isto é a colocar o Homem no centro do Universo!
6. E depois de Lovaina, o senhor regressou a Portugal?
Não, meu caro/ minha cara. Depois de Lovaina, por volta de 1532, tive o privilégio de pertencer à Corte austríaca do Imperador Carlos V e acompanhei, como mestre de Latim, o embaixador português, D. Pedro de Mascarenhas. Foi nessa altura que conheci entre outras as cidades de Colónia, Viena, Veneza, Bolonha e Barcelona.
7. André de Resende, quando regressou a Portugal?
Dois anos depois, regressei ao convento de S. Domingos, em Évora, mas o rei D. João III convidou-me para professor dos seus 3 irmãos e assim regressei à vida da corte onde escrevi a biografia de D. Duarte.
8. Como foi a sua vida na corte?
Se alguma vez lerem o livro Sobre a Vida da Corte, onde os Poetas Vegetam, entenderão o que eu sentia na época em relação ao materialismo e à ignorância dos nobres. Mas devido ao meu prestígio, era convidado frequentemente a discursar em várias cerimónias públicas.
Nessa altura, eu regia a cadeira de Humanidades na Universidade de Lisboa e tendo esta mudado para Coimbra, acabei por ensinar também naquela cidade.
Em 1555, quando o ensino foi entregue à Companhia de Jesus, regressei novamente ao convento de S. Domingos.
9. André de Resende, ouvi dizer que foi o primeiro arqueólogo de Portugal. O que fez na realidade?
Fiz o primeiro estudo dos monumentos com inscrições da época romana existentes em território português. No entanto, injustamente acusam-me de falsificar inscrições epigráficas. Se cometi incorrecções, não o fiz intencionalmente, moveu-me a curiosidade pelas antiguidades greco-romanas.
10. Gostaria que falasse na sua actividade como escritor. Em que línguas escreveu e quais os livros que destaca da sua obra?
Escrevi em português e latim.
Destaco o texto dedicado a Erasmo de Roterdão – "Erasmi Encomium";
o poema Genethicon principis lusitani… dedicado às festas realizadas em casa do embaixador português em Bruxelas (D.Pedro de Mascarenhas), em honra do nascimento do príncipe D. Manuel, filho de D. João III e de D. Catarina (irmã do imperador Carlos V);
As Antiguidades da Lusitânia, editado em Roma, Colónia e Frankfurt e
A História da Antiguidade da Cidade de Évora.
11. Após o seu regresso definitivo a Évora, assistiu a alguma construção importante para a cidade?
Cheguei a Évora estava a terminar a Primavera. Os campos estavam verdejantes e senti-me de regresso a casa. Após um Verão escaldante iniciaram-se em Outubro as obras do Aqueduto da Água da Prata. Quis o nosso piedoso rei D. João III trazer de novo a água à cidade, que como sabem vem de muito longe. É uma grande obra da nossa cidade.
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