Andava o povo, assustado,
a fazer a montaria
ao grande lobo esfaimado
que tanto mal lhe fazia.
a fazer a montaria
ao grande lobo esfaimado
que tanto mal lhe fazia.
Elle levava nos dentes
agudos e carniceiros,
os meninos inocentes
que são os alvos cordeiros.
agudos e carniceiros,
os meninos inocentes
que são os alvos cordeiros.
E as pessoas assaltando,
vinha de noite, em segredo,
com seus olhos clamejando,
encher a gente de medo!
vinha de noite, em segredo,
com seus olhos clamejando,
encher a gente de medo!
Ora, San Francisco era
incapaz de querer mal
mesmo que fôsse a uma fera,
até ao tigre real.
incapaz de querer mal
mesmo que fôsse a uma fera,
até ao tigre real.
Tinha tão bom coração
que homens e bichos o amavam
e as andorinhas poisavam
na palma da sua mão...
que homens e bichos o amavam
e as andorinhas poisavam
na palma da sua mão...
E como elle desejava
que tudo vivesse em paz,
enquanto o povo caçava,
o Santo, o Poeta, que faz?
que tudo vivesse em paz,
enquanto o povo caçava,
o Santo, o Poeta, que faz?
Procura o lobo cruel,
e tendo-o encontrado enfm,
chamou-o, foi para elle,
sorriu-lhe e falou assim:
«Ó lobo, muito mal fazes
em levar vida tão má!
Mas eu proponho-te as pazes,
e tudo esqueço... Ouve lá:
em levar vida tão má!
Mas eu proponho-te as pazes,
e tudo esqueço... Ouve lá:
«Eu sei porque fazes mal,
eu sei o que te consome:
tu és tão mau, afinal,
tu és mau - porque tens fome...
eu sei o que te consome:
tu és tão mau, afinal,
tu és mau - porque tens fome...
«Pois bons amigos seremos,
para nosso e teu descanso;
e de comer te daremos
para poderes ser manso.
para nosso e teu descanso;
e de comer te daremos
para poderes ser manso.
«Promete que has de mudar
de vida, neste momento:
e em sinal de juramento,
alevanta a pata ao ar
e põe-na na minha mão!»
de vida, neste momento:
e em sinal de juramento,
alevanta a pata ao ar
e põe-na na minha mão!»
Jurou o lobo. E cumpriu...
Depois, toda a gente o viu
tão mansinho como um cão.
Depois, toda a gente o viu
tão mansinho como um cão.
Afonso Lopes Vieira, in Animaes nossos Amigos (1911).
Na cidade de Gubbio, onde Francisco viveu durante algum tempo, havia um lobo "terrível e feroz, que devorava homens e animais". Francisco teve compaixão pela população local e foi para as colinas achar o lobo. Logo, o medo do animal fez todos os seus companheiros fugirem, mas Francisco continuou e, quando achou o lobo, fez o sinal da cruz e ordenou ao animal para vir até ele e não ferir ninguém. Milagrosamente, o lobo fechou suas mandíbulas e se colocou aos pés de Francisco. "Irmão lobo, você prejudica a muitos nestas paragens e faz um grande mal" disse Francisco. "Todas estas pessoas o acusam e o amaldiçoam. Mas, irmão lobo, eu gostaria de fazer a paz entre você e essas pessoas". Então Francisco conduziu o lobo para a cidade e, cercado pelos cidadãos assustados, fez um pacto entre eles e o lobo. Porque o lobo tinha "feito o mal pela fome", a obrigação da população era alimentar o lobo regularmente e, em retorno, o lobo já não os atacaria ou aos rebanhos deles. Desta maneira Gubbio ficou livre da ameaça do predador.
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