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quarta-feira, 4 de maio de 2011

5 de Maio, Dia da Língua Portuguesa e o Acordo Ortográfico...

O Dia da Língua Portuguesa e da Cultura é comemorado em 5 de Maio, sendo promovido pela CPLP e celebrado em todo o espaço lusófono.
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é uma organização assinada entre países lusófonos, que instiga a aliança e a amizade entre os signatários. 


«Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.»

Fernando Pessoa, representado pelo heterónimo Bernardo Soares, 
in Livro do Desassossego
grelha_novo_acordoII_2011

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Dia da Língua Materna, 21 de Fevereiro. O que pensaria Fernando Pessoa do Acordo Ortográfico?

«Não chóro por nada que a vida traga ou leve. Há porém paginas de prosa me teem feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noute em que, ainda creança, li pela primeira vez numa selecta, o passo celebre de Vieira sobre o Rei Salomão, "Fabricou Salomão um palacio..." E fui lendo, até ao fim, tremulo, confuso; depois rompi em lagrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquelle movimento hieratico da nossa clara lingua majestosa, aquelle exprimir das idéas nas palavras inevitaveis, correr de agua porque ha declive, aquelle assombro vocalico em que os sons são cores ideaes — tudo isso me toldou de instincto como uma grande emoção politica. E, disse, chorei; hoje, relembrando, ainda chóro. Não é — não — a saudade da infancia, de que não tenho saudades: é a saudade da emoção d´aquelle momento, a magua de não poder já ler pela primeira vez aquella grande certeza symphonica.
Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m´a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.»
Fernando Pessoa

1888-1935. Poeta português, nascido em Lisboa, considerado a maior figura literária do século XX, teve grande influência no chamado movimento futurista ou modernista. Colaborou em prosa e verso em várias publicações e dirigiu as revistas "Orfeu" e "Atena". Autor de "Mensagem", usou ainda heterónimos para várias obras suas: "Poesias" (Álvaro de Campos), "Poemas" (Alberto Caeiro) e "Odes" ( Ricardo Reis), além do "Livro do Desassossego" (Bernardo Soares).